Hoje é 03 de abril. Não, não é meu aniversário. Mas comemoro a vida e tudo o que a corrida me proporciona.
Nasci em 29 de dezembro de 1968. Mas comemoro um de meus renascimentos desta vida hoje, 3 de abril. Em 3 de abril de 2018, por volta das 20h30, me dei por perdida , sozinha, nas trilhas entre bosques e glaciares da Patagônia Chilena.
Naquele ano, resolvi comemorar meus 50 anos correndo os 50k da corrida de trilha mais linda e selvagem do continente: a Ultrafiord.
Fiquei mais de 32 horas sozinha pela trilha, passei a noite em movimento para não morrer de hipotermia com a fina e gelada neve que caia. Fiquei em pé e em movimento por 42 horas. Voltei a "civilização" mais de 60 horas após ter largado pelo pórtico próximo ao Rio Serrano, em Torres del Paine.
A foto acima foi feita por um staff no meio do percurso, no último posto de apoio antes de eu me perder. E é um dos poucos registros desse "renascimento". Imagine-se das 20 horas de uma terça-feira até as 16h de uma quarta-feira, perdida, sozinha, num bosque assim? Na escuridão da noite, apenas com uma headlamp e a neve caindo?
Como sobrevivi? Uma longa história...Como me acharam depois de muitos me darem como morta? Não me acharam. Eu que os achei...
Mas tudo isso eu vou contar no livro que sairá em 2025. Um livro que já era para ter saído, mas veio trombose vascular cerebral, pandemia...E nem sempre as coisas saem como planejamos. Vários "renascimentos", ao longo dessas mais de 5 décadas de vida. Muitos, quase todos, tem a corrida me acompanhando.
Perdida na trilha de 50k, em 2018, para comemorar 50 anos. Trombose Vascular Cerebral em 2020 treinando para uma ultramaratona em pleno Caminho da Fé...
Acho que é isso: a corrida e a fé me movem, sempre! Com a corrida crio meu "caminho da fé". Por isso, independente da situação, acredito e sei que, quando necessário somos capazes de acessar "forças" e "lugares" que nem sonhamos.
Acredito no mantra da minha vida. Um mantra que ganhei de presente de um mestre, não lá, entre bosques, pumas e neve. Mas no mais profundo de meus medos diante da finitude da vida, em meio a uma pandemia e pós uma trombose cerebral. E é este mantra que me acompanha todos os dias. Que me faz correr, querer, fazer: "O que é maior: seu medo de morrer ou sua vontade viver?"
A minha vontade viver não tem limites, mestre! Ela será sempre maior. Costumo dizer que não sonho grande, não.
Eu QUERO grande! O querer traz movimento, por isso QUERO GRANDE!
Tenho um poema de Thoreau que ouvi pela primeira vez ainda adolescente, quando assisti ao filme "Sociedade dos Poetas Mortos", que define bem essa minha ligação com o movimento, a corrida e a natureza, as montanhas:
"Eu fui à floresta porque queria viver deliberadamente. Eu queria viver profundamente e sugar toda a essência da vida. Eliminar tudo o que não era vida. E, não, ao morrer, descobrir que não vivi."
Por isso fui, vou e sempre irei para as trilhas: para sugar a essência da vida, da minha natureza! Que venham novas e muitas trilhas!
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